Carnaval nas páginas do A Alvorada

Carnaval no jornal A Alvorada
15/03/2024 Jorge

O Carnaval era uma época muito importante para a sociedade de Pelotas, especialmente a negra,  e era tratado de maneira especial pelo A Alvorada que estava envolvido na promoção de bailes e atividades culturais para os seus irmãos. Aqui um extrato de 1918 onde podemos ler sobre as diferentes atividades, festas, desfiles, bailes de rua, bailes de salão, etc.

O jornal era um dos principais órgãos de divulgação das festas e levou a cabo por anos o concurso de Miss Alvorada, com o objetivo de valorizar a beleza negra e aumentar a autoestima dos negros, mulatos e pardos.

As Sociedades Recreativas eram os principais pontos de encontro e de reuniões sociais, surgiram diferentes, mas poucas tinham sede social. Durval e Juvenal foram participantes ativos em diferentes grupos e sociedades como Depois da Chuva, Chove não molha, Está tudo certo, etc.

Os Clubes e associações na Alvorada

A Alvorada era o principal meio de promoção e divulgação dos clubes e associações de Pelotas.

Podemos ler os comentários e críticas posteriores sobre cada baile, festa, festival, evento, e do Carnaval.

Bagunça no baile

Mas nem todos os bailes acabavam bem e mereciam bons comentarios, muitos acabavam mal por problemas provocados por militares e policiais de paisano e armados, que provocavam brigas, quebravam cadeiras, vidros e agrediam mulheres. Os fatos se repetiram algumas vezes nas páginas d’A Alvorada que utilizava a sua tradição e buscava o apoio dos seus leitores para ampliar a sua denúncia.

A queixa em forma de manifesto dizia que alguns indivíduos, abusando do seu poder e da posse de armas, se prevalecem sobre os demais assistentes do baile, provocando alvoroço, vandalismo, ameaçando senhores e senhorinhas.

A publicação no jornal era uma forma de pressionar as autoridades para evitarem tais ataques, mas também cabe pensar que esses ataques estiveram de acordo com as ideias dos superiores, ou até mesmo contassem com a aprovação do chefe de polícia de Pelotas, que não era precisamente conhecido pelo trato igualitário com os negros.

Pesquei

Conforme fôra anunciado realizou-se sábado ultimo, na séde da S. R. C. Depois da Chuva, o baile dos «12 Caipiras masculinos e femininas», estava muito animado, imperando alegria, graça e harmonia.

Altas horas da madrugada chegaram os jovens Gute e Osiris Leal, aquele costumás arruaceiro e perturbador das féstas, arregaçou as calças e tirou a camisa para fóra das mesmas e entrou no salão, fazendo o mesmo o jovem Osiris.

Uma vês dentro do salão acharam que deviam dançar e assim tentou fazer o seu Gute, no que foi impedido por um senhor, que pediu-lhe que compuzásse as véstes, foi isso o necessario para que a alegre fésta se transformasse num verdadeiro conflito, nele tomando parte diversos militares, conforme nos referimos noutro local desta folha, houve bofetadas, vidros e cadeiras quebradas, correrias, gritos, sangue pelas paredes. Enfim fizêram o que bem entenderam, tomando conta do recinto e terminando a fésta e a nossa ativa policia nada viu.

O maior responsável por tudo isso foi o mal educado Gute, que andando com a cabeça cheia de alcool foi para lá, afim de perturbar a ordem, secundaram-no jovem Osiris e o Bataclan, que tivéram papéis salientes na desordem.

O que irão fazer as sociedades em face desses acontecimentos? Pois os inimigos da ordem ficaram impunes, urgem tomarem uma medida para evitarem que amanhã repitam-se essas cenas proprias de gente sem educação e sem cultura.

Parece incrível que tenham tomado parte nessa lamentável cena sargento, cabo e praças pertencentes ao 9o Regimento de Infantaria!

Os garantidores da ordem, os zeladores da pás, da tranquilidade da Patria e da Familia Brasileira!!!

Enfim como estamos no século da LUZ! talvês seja isso – EVOLUÇÃO!!!

O Pescadinha como não entende de patavina, deixa isso para o lado e atira o seu caniço nagua afim de trazer aos seus leitores outros assuntos…

 

Grossa «Bagunça»

Com vistas as Autoridades Militares

Dia a dia a nossa Campanha Pró-Educação vae se tornando mais necessario para corrigir pessimos elementos, que não deixam germinar a semente da Moral e do bom comportamento nas sédes sociais de nossa raça.

Até então eram elementos civis que de escandalo em escandalo, não deixavam em pás as reuniões recreativas; agora são militares que ignorantes de seus deveres e sem nenhuma educação, deram para praticar cenas turbulentas em nada abonatorias das fardas que vestem e do dever e decoro que a diciplina lhes impõe.

No numer destes contam-se o 3o sargento Lucio, o cabo Borba e os soldados Mario Bastos, Fruto, Pinheiro e outros que provocaram grande «sururu» no sábado passado, (11), na séde da S. R. C. Depois da Chuva, quebrando vidros, cadeiras, pelo espaço de 3 horas quantas vão das 2 as 5 da manhã!

Chamamos a atenção das Autoridades Militares pelo fato dessas praças não só se prevalecer da farda do glorioso Exército Nacional como andarem, clandestinamente, armados de sabres por debaixo das blusas para desrespeitarem civis e dirigentes de sédes sociais.

Um deles, Mario Bastos, useiro e veseiro em «sururús» de a muito que tem a entrada proibida na séde social do Depois da Chuva; mas como é casado, se prevalece e se apresenta com a esposa e dai é o ter entrada para armar «bagunças».

Já a dias chamamos a atenção de nossos leitores para um outro militar, e que fás parte deste grupo, que não só trespassou-se com uma senhorinha como esbofeiteiou-a no Carnaval em plena rua!

São fatos que bastante nos constrangem, traze-los á luz da publicidade, mas que desmoralisam não só a raça a que pertencem esses militares como a valorosa unidade da qual fazem parte.

Estamos certos que levando esses fatos ao conhecimento do Ilustre Comandante do Regimento, abrirá sindicancias e corrigirá semelhentas abusos.

Todos esses militares tem a entrada proibida, por ordem da Direção, na séde do Depois da Chuva.

Esperamos que não se reproduzam as mesmas «bagunças».