José se estava preparando para ir à capital, ia entrar numa Universidade. Antes da viagem a Porto Alegre foi redator da Alvorada por uma temporada, exatamente quando aproveitou a oportunidade para promover a sua campanha pela educação e instrução.
Enquanto foi redator o jornal assume o tom combativo, o seu amigo Miguel Barros, assinando Creoulo Leugim, ocupa sempre parte da capa com textos curtos de grande impacto.
Outros autores e colaboradores se unem à Campanha e assinam textos defendendo a iniciativa e animando aos leitores a ajudar e buscar a iluminação através do estudo.
José comunica as decisões da primeira assembléia da Frente Negra Pelotense, onde Miguel Barros foi nomeado Guarda Livros da organização. Miguel é o autor do texto «All the negroes!», em que explica como a idéia de que os negros são preguiçosos e incapazes foi colocada na gramática inglesa por Frederico Fritzgerald.
Campanha Pró-Educação
Alérta, Negros
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Ao assumir a redação do nosso humilde semanario durante o curto lapso de tempo em que estiver de férias, farei todo o esforço para que «A Alvorada» continue no seu firme proposito de mostrar ao povo desta cidade, principalmente etiópico, que só estudando e procedendo corretamente com seus semelhantes, o homem negro poderá levar de vencida um dos modernos cavaleiro do Apocalipse, o PRECONCEITO de côr.
Dito isto, dou por terminada a minha apresentação, convidando a todo aquele cidadão de boa vontade que quizer uzar de gentileza de nos honrar com a sua colaboração, que as colunas do nosso orgão está a disposição. Continuarei ainda, para dizer algo sobre uma organisação que inicia seus passos vagarosamente, mas que dentro em breve será uma realidade.
A Frente Negra Pelotense está firme, e assim ha de continuar, pois associação como esta, poucas ou nenhuma existe no mundo, verdade é que encontrará dificuldades agora no principio, mas dádo um pugilo de homens intemeratos que trabalham na direção, estou confiante que semelhantes dificuldades h~åo de ser vencidas, e amanhã Pelotas orgulha-se á de possuir um centro de cultura que não só elevará o nome da cidade como o do Brasil, sendo que mais tarde a sua obra ha de fazer éco em todo o mundo.
Ha dias assisti uma sessão da mesma, onde foram ventilados assuntos de maxima importancia, entre êles, a nomeação de Guarda Livros da novel organisação cultural, do ilustre e batalhador jovem, Bacharel em Ciencias Comerciais, Miguel Barros, formado no veterano estabelecimento de ensino Ginasio Gonzaga, ainda uma nomeação de muito valor, foi sem duvida a de Cobrador, confiada ao distinto e acreditado sr. João Pedro Ferreira.
Isto me deixou devéras entusiasmado, principalmente quandosoube que as mensalidades no valor de 1$000, serão cobradas ainda este mês, aos 80 socios inscritos no livro de presença quando da ultima sessão de Assembléa Geral no dia 15 do mês primeiro.
O nucleo ora ali reunido, está no firme proposito de alugar dentro de pouco tempo, de acordo com a boa vontade dos srs. socios, em seus pagamentos, um local proprio para a localisação oficialmente da séde da futurosa agremiação de fundo puramente intelectual e cultural.
Fiquei ciente de que no proximo dia 24 do corrente, haverá Sessão de Assembléa Geral na séde provisoria, isto é, no salão do simpatico e atencioso «Está Tudo Certo» ás 3 horas da tarde, parra ser tratado assuntos de elevada importancia para a sociedade, o que equivale a dizer: para o bem da coletividade.
Será franca a entrada e não haverá seleção de raça, classe, sexo, crédo religioso, nacionalidade, traje, etc., isto é, todos que souberem manter a devida compostura em reuniões de semelhante ordem, podem comparecer, que não tiver a devida compreenção de seu papel perante a coletividade, é desnecessaria a sua presença, isto agora, porque mais tarde, estes serão sempre os primeiros convidados, pois para estes é que a Frente foi creada.
Amigos, por hoje ponho ponto final nas linhas que ficaram, pois talvês já tenha me tornado aborrecido, mas uma cousa vos digo: «Combaterá a F. N. P. todo aquêle que nunca visou o engrandecimento do Brasil». Por isto, mais uma vês devemos gritar: Abaixo a Ignorancia, mãe de todos os males sociais que ora assoberbam o mundo.
José Penny
Preparatoriano de Engenharia.
Interessante texto onde anunciavam uma nova reunião onde se defenderia mudar o nome para Frente Educacional Pelotense, sem a palavra Negra. Finalmente essa proposta não conquistou os votos suficientes e o nome da associação continuou sendo Frente Negra Pelotense, defendida com a afirmação de «quem não está conosco, está contra a Frente Negra» nessa capa do inicio de 1934.
Campanha Pró-Educação
Despertai, Raça
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Passeando pela rua 15 de Novembro em dia da semana que passou, tive o prazer de contemplar em certa vitrina, um quadro onde se viam diversas jovens que haviam terminado o curso do «Colegio Joaquim Assunção».
Olhei com muita atenção, achei muito bonito, admirei com entusiasmo as jovens, os jovens, bem assim como as professoras que o quadro na sua singeleza apresentava, mas houve uma cousa que me deixou muito triste e roubou toda admiração e entusiasmo de que antes de que antes estava possuido, pois notei com os maiores pesares que não havia naquele retangulo de madeira, ao lado daquelas juvenis figuras, enhuma jovem ou mesmo jovem, decendenteda sublime e grandiosa raça etiópica.
Como me contrista e penaliza semelhante fato, Pelotas que tem uma população mais ou menos densa de elementos da raça a qual pertenceu o inesquecível José do patrocínio, não ter o prazer de mostrar ao povo desta cidade o progresso intelectual de seus filhos, tão espesinhados e tão idealistas nos seus empreendimentos.
Desperta negro, do teu sono de antanho, repara nestas pequenas cousas e vê como penalizam.
Não és inferior, como prova a tua capacidade mental, temos em Pelotas os grandes professores Francisco Paula Alves e Joaquim Alves da Fonseca. Dr. Ari Lopes Machado, bacharelando em Ciencias Comerciais e pintro de grandes recursos e futura gloria nacional, jovem Miguel Barros; 1o Tenente do exercito ora na escola de Intendencia no Rio, sr. Antonio Manoel de Souza ; bacharelando em Ciencias e Letras ha pouco formado pela nossa faculdade, jovem Alcindo Simões ; academico do 4o ano do curso de Engenheiros Agronomos da veterana escola Eliseu Maciel, jovem Ernestino Lopes Machado ; professoras Faustina Lessa Pires, Ogenía Cupertino, Luiza Ferreira, a distinta aluna do nosso Conservatorio de Musica jovem Mariana Lopes ; a Normalista Adelaide Brito que o ano passado terminou o curso na escola Normal da Capital, e outras mentalidades que de momento não me recordo, mas que são uma gloria, tanto para a nossa querida Princesa do Sul, como para mostrar o valor e capacidade da raça ora tão mal compreendida.
Acorda, ergue a cabeça, destolda teu cerebro que ainda está encuberto por nebulosas.
Na «Congregação Geral» da Frente Negra Pelotense, realisada no dia 25 de dezembro ultimo e presidida pelo culto professor Francisco Paula Alves da Fonseca, notou-se o despertar de muitas inteligencias que devido a esta desunião e mesquinhez em que vivem os etiópicos desta terra, não poderam até hoje abrir seus cerebros, deixando jorrar em abundancia este vivificante balsamo, desafogo dos oprimidos e humilhados, o Entusiasmo.
A Frente Negra Pelotense chama postos todos os baluartes da raça, pois que hoje a tarde sa séde provisoria sita à rua General Argolo 415, haverá uma grandiosa «Assemblea Geral Extraordinaria» para ser defendida por brilhantes intelectuais da comunhão negra Pelotense, o novo título que será dado a novel associação ora vitoriosa em todos os meios. Será defendido o nome Frente Educacional Pelotense, os motivos desta mudança serão esclarecidos logo a tarde.
José Penny.
Texto de Miguel Barros com o título de «Arianisação no Brasil», em 1934, criticando o racismo institucionalizado na sociedade visto do ponto de vista dos negros. A idéia de que existem raças superiores conduce ao racismo.
Despedida
José se despede de ser redator da Alvorada e passa o comando ao seu amigo Miguel Barros, os estudos são exigentes, mas a vida na Capital permite que ele conheça outros expoentes da Raça e faça entrevistas para o jornal.
Campanha Pró-Educação
Despedida & Entrevista
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Para encerrar a minha curta gestão do unico orgão que nos Estados de Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, defende desassombradamente a Raça de onde surgiu como um meteoro despedindo no espaço infindo das gerações que foram, das que estão e das que virão um faixo de luz, abnegação e heroísmo, o vulto inconfundivel de José do Patrocínio.
Peço aos caros leitores que me dispensem uns minutos, para agradecer penhoradamente as atenções que dispensaram as desataviadas paginas da «A Alvorada» durante os 3 meses em que ocupei sua redação, bem assim como ao modestotipografo, modesto na aparencia, mas grande na sua arte que tão nobre e compenetrado de seus deveres se mostrou me auxiliando, enfim este meu agradecimento se extende a todos quanto diréta ou indiretamente me auxiliaram, para maior brilho deste modesto semanario, que de lese a oeste, do sul até o norte é conhecido no Brasil.
Aproveitando o ensejo, direi algo sobre a entrevista que tive com o jovem e ilustre 1o Tenente do Exército Brasileiro, sr. Mario Fonseca, filho do Cel. Teodomiro Porto Fonseca, digno Prefeito de São Leopoldo. Este jovem que deixa vêr pela sua cultura de um verdadeiro psicologo, o quanto ama o Brasil e os seus habitantes desde a formação deste maravilhoso pais. Teve oportunidade de apresentar as devidas desculpas em nome de seu pai, pelo caso da Praça Centenario, onde negro não podia sentar nos bancos. Segundo este jovem, tal ordem nunca existiu, aoenas o correspondente do «Diario de Notícias» naquéla localidade, inventou a famigerada medida prefeitural, mas que afinal já está provado ser simples creação de um inimigo gratuito das boas maneiras de educação e cultura dos habitantes de São Leopoldo.
O jovem Mario prometeu, quando em ocasião oportuna, fazer uma vizita a Frente Negra Pelotense, talvez até para fazer uma pequena palestra sobre o passado da gloriosa Raça de que o Cr. André Rebouças foi um decendente, digno e capaz. Por meu intermedio remeteu áquéla associação cultural os seus agradecimentos e cumprimentos acompanhado de seu cartão de vizita.
José Penny.
José Penny seguiu colaborando com A Alvorada, menos que antes, e se desculpava em uma carta a Miguel Barros que foi publicada na capa do jornal.
Campanha Pró-Educação
Uma Carta
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Com saudades de José Peni, e principalmente de sua pena, apresamo-nos a publicar estas suas linhas, outrosim para justificar, nossa atitude quanto á direção de nosso orgão.
Porto Alegre, 30 de Agosto de 1934.
Presado amigo Barros.
Eu felizmente vou bem de saude e lutando com os estudos, graças que o fim do ano está proximo, e com êle quero crêr o meu longo curso secundario.
Devido a falta de tempo, eporque não dizer a bem da verdade, a um pouco de “malandragem”, é que tenho passado tanto tempo sem escrever umas linhas ao caro e esforçado colaborador da causa nobre e sacrosanta, levantamento moral e intelectual da Raça do imortal José do Patrocínio.
Apezar disto, mais vale tarde do que nunca, assim resólvi felicitar ao amigo pela brilhante maneira pela qual vem dirigindo a nossa velha e querida folha, «A Alvorada», e ao mesmo tempo pedir para que substitua no cabeçalho damesma, o meu nome pelo de amigo. Usando de toda franqueza, digo ao amigo que faço questão, que dentro do mais curto espaço de tempo seja satisfeito este meu desejo, pois que não razão nem argumento que justifique o meu nome no posto em que deveria estar o amigo, que bem o merece, pelo devotamento e energias que vem dispendendo em pról do progresso do velho semanario.
Se não tivêra eu a pratica que tenho, a respeito do jornal que ora dirigis, e do ambiente onde mesmo circula, não poderia aquilatar o sacrificio que deveis estar empregando para tão bem desempenhares tão ardua missão, que seja dita sem medo de erro, muito honra o jornal e a causa pelo qual se bate.
Foi tão notavel a transformação pela queal passou o orgão de «guerra», que outro, não eu, poderia passar silencioso por tão extraordinario fato.
Esperando vêr satisfeito o meu desejo quanto a troca de nomes no logar de Redator, desde já manifesto o meu agradecimento ao amigo.
Tenho notado que a Frente Negra, ultimamente tem dado forte sinal de vida, isto muito me alegra, pois desde que cheguei em Porto Alegre, venho observando que muito pouco se falava da nossa organisação, tano que no mês de maio, tive o desprazer de lêr na seção de Pelota do velho orgão «Correio do Povo», que a gloriosa data de «13 de maio» havia passada completamente despercebida em Pelotas, assim como esta mesma data havia sido transformada em «Dia do automovel» pelo egregio sr. Getulio Vargas.
Eu, como o amigo melhor ninguem sabe, sempre fui, sou e hei de ser um batalhador pelos ideais da emancipação da humilhada raça negra, fiquei no entanto um pouco abatido com tais noticias, mas como o estudo absolvia todo meu tempo, não me foi possivel fazer a mais tempo este relato que o dever me obrigava, tanto que hoje aqui estou, de lapis em punho, e talvez pelo habito de rabiscar desataviadas linhas para a imprensa, fazendo esta carta sobre tiras de papel e lapis, o que desde jápeço ao amigo queira desculpar e interpretar com benevolencia semelhante cousa.
A F. N. venceu, e ha de vencer com brilhantismo a sua carreira de elevado cunho social, mas é preciso que seus homens de bôa vontade, lutem cada dia mais do que o outro. Terá, mesmo com muita razão, dádo o ambiente, que se desenvolver com passo moroso e mesmo até parecer que está parada, a melhor organisação da gente negra do sul, talvez pelo seu alevantado patrimonio moral que trá à conquistar, tenha lutado com tanta dificuldade.
Prezado coega de idealismo, é com satisfação e orgulho que te saúdo e a todos que lutam pelo sagrado ideal.
Esperando receber conforme estiver nas vossas possibilidades, algo a respeito de sua saude e do que vai pelos «bastidores» da cidade, envio-lhe a minha direção: Rua General Bento Martins, no 537.
Sem mais, adeus, saude, felicidades e recomendações a vossa familia, são os votos do humilde admirador.
José Penny