Inevitavelmente de tanto se meter na vida alheia o Sr. Juvenal acabou sendo agredido na porta da fábrica Amazonas. Se conta com detalhes o fato, mas não se entende bem se o capataz atuou mandado por outra pessoa, ou ofendido por algum comentário publicado por algum anônimo na coluna Pesquei.
O primeiro golpe
Terça feira, as 12 horas, quando transitava pelas immediações da Fabrica «Amazonas» o nosso companheiro sr. Juvenal M. Penny, (dr. Pescadinha), um dos proprietarios deste jornal, foi chamado pelo capataz daquela casa, afim de responder sobre a procedencia de umas criticas estampadas na secção «Pesquei» e que não se referiam ao mesmo individuo.
Como era natural, o sr. Juvenal Penny negou-se a dar qualquer informação já por si exigida de forma não prevista nem reconhecida pela imprensa, como, tambem, por não ter os originaes á mão.
Isso fôra o bastante para que o referido capataz agredisse de uma maneira brutal e inesperada o nosso companheiro que, alem de ficar com o seu paletot rasgado contra uma cerca de arame, teve a infelicidade de receber alguns golpes do punho brutal do referido individuo, ficando contundido em varias partes do rosto, sem comtudo, haver gravidade nos ferimentos.
Como já sabemos o referido individuo não está agindo por conta propria, e sómente cumpre ordens recebidas, vamos deixar o assumpto para adicional-a á serie de artigos que hoje iniciamos sob o titulo Os intangiveis, atravéz dos quaes os leitores ficarão scientes do que se tem passado comnosco, onde até chegaram ao cumulo do disparate em dizer que os proprietarios da Alvorada tinham recebido 50$000, a titulo de rolha, como se a gente, aqui, não tivesse outros affazeres do que andar criticando actos alheios.
Outros que não mandam as criticas pelas quaes respondem, é claro – que de nossa parte evitaremos de estampal-as.
Não obstante, e dentro das condições conhecidas, a secção Pesquei continuará em pé, sem exclusão do nome do Presidente da Republica, a mais alta autoridade da Nação, a quem não querem a conhecer como inviolável em seus actos publicos.
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Na edição posterior d’A Alvorada, o Dr. Pescadinha conta que o seu agressor, o capataz Luiz, ficou furioso por ter sido intimado a comparecer na delegacia.
Também se publica na coluna Horas Vagas do colaborador Zé da Várzea uma crítica ao ocorrido, mas fazendo uma ressalva de que o jornal também deveria cuidar de não se meter na vida dos outros, e muito menos publicar boatos e fofocas anônimos. Mas não fizeram caso ao amigo, e a coluna seguiu firme e forte, e esse tipo de jornalismo continua ocupando muito espaço nos meios de comunicação até hoje.
Horas vagas
A minha opinião
Já é tempo de mudar o tal systema de criticar offensivamente.
Esse mundo um pouco absurdo de envolver-se com a vida alheia é de más consequencias, muitas vezes funestas, as quaes só trazem prejuizo para aquelles que não tem esse habito de usar da pena para galhofar de quem quer que seja.
Em todos os jornaes semanarios é natural o uso de critica, mas uma critica decente, que empolgue, que encha de riso o semblante tristonho dessa mocidade avida por gracejo, e não essas ofensas á moral, esses pezados palavreados que causam nojo, que irritam os nervos.
Não é nas colunas dos jornaes que se deve tirar desforra de actos particulares, principalmente de actos praticados na intimidade, e que a maioria do publico nada tem que ver com isso, a não ser para fazer uma mão juiza de quem pratica.
Estou certo que, se todas as criticas offensivas fossem obrigadas a levar a respectiva assignatura do autor, estas teriam o objectivo unico de provocar o riso e não a discordia.
Se assim se procedesse desde o inicio de cada jornal limpando cuidadosamente essas immundicies que os irresponsaveis remettem, a dvida da imprensa seria sempre serena, e não viriam incomodar-lhe a sua tranquilidade, nem os seus proprietarios e redactores passariam pelo desgosto de serem aggredidos nem insultados por quem quer que fosse.
É necessario que se mede de systema, para a boa marcha da imprensa, mesmo porque essa mesma imprensa não é tribunal de desafectos pequeninos de apaixonados sem escrupulos, que não são responsaveis pelo que escrevem.
Que tem que vêr os assignantes desta folha que esta ou aquella ande sem meias ou abraçada nos quartos reservados das fabricas, ou na rua silencionsa e deserta, nessas noutes negras e tempestuosas ?
Nada. Isso são cousas particulares que não compete a um jornal publicar, porque não só desmoralizam como também conquistam a antipathia.
A agressão brutal de que foi alvo, ha dias o nosso prezado amigo sr. Juvenal Penny, não se teria dado, se não fosse a sua bondade em consentir que irresponsaveis inferissem nas columnas de seu jornal criticas offensivas.
Todos lamentaram a agressão. Todos se sentiram com direito de protestar contra essa violencia practicada nesse companheiro de trabalho, cujo genio é innofensivo, e portanto digno de respeito, até mesmo dos mais brutaes dos habitantes do globo.
A secção Pesquei, tem por um dever modificar a sua linguagem, não porque se tema a morte, mas, para evitar questões desagradaveis, e salvaguardar a nossa dignidade, livrando-nos do contacto dessa gente que desconhece o verbo – gracejar – e mesmo porque este é m jornal para o recreio da juventude e não uma caixa para affrontas a quem quer que seja.
Zé da Varzea.