No texto titulado “Verdades que Machucam” José coloca as pedras fundamentais da Campanha Pró-Educação, com os argumentos definitivos para que todos se unam a tão nobre iniciativa.
Campanha Pró-Educação
Verdades que Machucam
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Algumas pessoas hão me dito que nem sempre se deve dizer a Verdade, mas tenho por lema usar de toda franqueza quando exprimo o que penso, principalmente, visando o assunto Instrução, que se acha tão descurado entre nós, resolvi apezar de ferir sucetibilidades grafar estas pobres linhas, onde procuro mostrar a Verdade dos fatos, muito embora sendo criticado.
Nada sei, nem sou, em comparação com outras mentalidades que colaboram neste semanario e existem no Brasil, mas aqui estou, porque almejo formar o exercito, dos que desejarem se baterem pelo problema maximo Nacional: A Educação. Exercito este onde militarei como o ultimo dos seus soldados, disposto a dizer a Verdade e sofrer a critica dos que me julgarem errado.
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Vós, que pertenceis a raça etiópica e andais todos os dias escrevendo cousas sem utilidade para os vossos irmãos que não vos compreendem, por não terem o conhecimento necessário; alistai-vos nas fileiras dos que combatem contra a ignorancia e ide para o campo de luta entusiasmar os que nada sabem, afim de que estes voltem as vistas para o que ha de belo e sublime no saber e na educação do «eu». Isto para amanhã veres o engrandecimento da raça e seres compreendido.
Escrevei bastante, prosa ou poesia, mas tendo sempre por objetivo o mostrar aos que sabem menos o grande valor que ha estudando; lendo bons escritores, que os ensinarão a se conduzirem na sociedade; a constituirem uma familia honrada, serem bons chefes da mesma, não constituirem familia numerosa, para assim poder educar seus filhos, porque se vamos esperar dos governos, a nossa evolução intelectual ficará transformada em quiméra como até hoje tem acontecido.
O pedreiro, o sapateiro, o alfaiate, o tipografo, o pintor, o leiteiro, enfim, todos os que empregam suas atividades em profissões que parecem humildes e que no entanto são tão grandes como a do médico, engenheiro, dentista, etc, mas que se tornam sem valor, porque os que a desenvolvem na maioria não têm a devida educação e conhecimentos para as defenderem e colocarem na altura em que deviam estar.
Todos nós, desde o «tirador de lixo» até o «Presidente da Republica», devemos estudar, este mais que aquéle, mas a verdade é que todo individuo que tivér educação, será conciente dos seus atos e dignificará a sua profissão por mais humilde que éla pareça.
Tenho apenas 22 anos, todavia tenho observado que todo movimento coletivo nas classes onde o preparo intelectual é deficiente não vai avante, o mesmo não se dando nas classes onde todos são concientes dos seus deveres e o cultivo mental é vasto.
Muitos perguntarão: Por que esta diferença? As respostas que não deixarão duvidas serão estas:
1ª. Onde não ha instrução e perfeito conhecimento dos deveres, nunca haverá progresso, e por isto todo movimento coletivo num meio inculto não vai além do inicio.
2a. Só poderá haver perfeita união coletiva, onde os componentes sejam educados e conheçam o verdadeiro dever do homem entre os seus iguais.
Eis porque as classes cultas dominam e dominarão, salvo quando a vossa inteligencia estiver cultivada, de maneira a poder discernir com segurança, o verdadeiro papel do homem entre os seus semelhantes.
Estudai, educai-vos e compenetrai-vos de que a verdadeira felicidade e união esta no saber.
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Não vos deixeis iludir com frases bonitas nem discursos bombasticos, uma vês que estes não visem a educação do povo.
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É isto, meus amigos, formemos o «Exercito do Saber», para combater o analfabetismo e educar os nossos semelhantes, afim de que estes não sirvam de esteio aos letrados corrompidos.
José Penny
Essa edição é interessante porquê deixa clara a linha editorial, a capa está dividida entre José Penny, Miguel Barros, e Thales de Mileto, filósofo antigo, num texto titulado “O Individuo e a Sociedade”.
A coluna de José Penny continuava se chamando Leia e Releia, mas agora aparece o título de Campanha Pró-Educação. No texto ele convida o povo etiópico pelotense para participar da Frente Negra Pelotense, uma sociedade para criar escolas e cursos para adultos e crianças.
Miguel Barros no texto “A Raça” comenta a esterilização de negros e judeus na Alemanha de Hitler.
Campanha Pró-Educação
Leia e Releia
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Alerta, Oh! Gigante
– Povo Etiopico Pelotense, onde está a tua verdadeira Sociedade?
– Estas que combalidas possues, cujos fins são ganhar dinheiro de uma maneira ou de outra para não falirem! Estas não são sociedades, estas não são os templos onde a infancia, a juventude e a maturidade, vá buscar os ensinamentos preciosos para afrontarem as ciladas da vida.
– Onde estão os teus verdadeiros intelectuais, isto é, os homens de cultura, teur irmãos de raça, que trabalham pelo teu progresso?
– Eles existem, e por sinal que em grande numero, não te procuram por principios onde o fator principal é a falta de vontade, pelo mesmo motivo não se interessam com a tua evolução.
– Por que fogem do teu convívio?
– Desviam-se de ti, porque te julgam completamente perdida e desmoralisada. Elaboram em erro, é certo, mas assim fazem, e os fatos reais comprovam a minha asserção.
– Onde está a sociedade para receber um expoente de cultura da raça?
– Atualmente não existe; pela mania que tens em cultuar o samba, obaile, etc., desordenadamente. Por praticares em alto grau de desunião, fator principal do teu atual estado de atrazo.
Eis em resumo os males principais que é preciso terminar uma vês por todas, pois dos 45 anos de emancipação, apezar de estarmos evoluindo, se houve algo para ti, foi só no que pendeu para futilidades.
– Alerta, oh! Gigante.
– A Frente Negra Pelotense ai está, dêm-lhe forças, e amanhã seremos paladinos do progresso brasilico, porque o Gigante que está hoje dormiu, despreocupadamente, está despertando para trazer LUZ e UNIÃO.
José Penny.
(Da F. N. P.)