Juvenal era um tipo inquieto, cheio de energia, e bastante observador, isso se vê perfeitamente refletido na sua coluna pessoal: Pesquei ou Pescando
Ele assinava a coluna com o pseudônimo de Dr. Pescadinha, uma espécie de crítico social da comunidade negra pelotense de princípios do século XX. Era uma nova geração nascida livre e em igualdade de condições segundo a nova constituição, onde pela primeira vez a possibilidade de ascensão social era uma realidade para algumas pessoas e o orgulho uma possibilidade.
O Dr. Pescadinha era o arauto da boa conduta, sempre pronto para apontar os comportamentos que ele considerava errados e que prejudicavam a imagem dos negros na sociedade.
A maioria dos textos eram do Dr. Pescadinha, mas lendo a coluna sabemos que ele tinha espiões colaboradores que passeavam pelas zonas mais movimentadas da cidade buscando algum fato pitoresco que contar.
Algumas eram denúncias anônimas de ver algum casal proibido, algum beijo furtivo, ou uma conversa muito animada…
Entretanto, depois de ler muitos exemplares, acho que o sistema de funcionamento da coluna era também de venda de espaço comercial para difundir fofocas e boatos.
O Dr. Pescadinha oferecia em muitos casos conselhos, e tinha como o objetivo melhorar a fama da comunidade. Essa moral era especialmente exigente com as mulheres e se pode ver claramente a distinção. Com o tempo a mulher conquista com dignidade e independência o seu espaço n’A Alvorada, mas não foi bem aceita por todos os colaboradores.
Durante todos os anos de existência d’A Alvorada a coluna sempre esteve presente, em alguns momentos chegou a ocupar uma página inteira, em outros apenas uma coluna pequena, mas sempre foi publicada sem faltar em uma só edição.
Em algum estudo que li, a investigadora entrevistou algumas pessoas de idade e muitas senhoras lembravam que as suas mães e avós tinham medo de sair criticadas nas páginas d’A Alvorada.
Não tenho dúvida que a coluna era importante para criar um senso de comunidade e também para conseguir captar o interesse de todos. Muitos acabavam comprando algum exemplar, ou até mesmo comprando um espaço para se defender de alguma acusação.
Outro assunto que se repetiu bastante na coluna do Dr. Pescadinha era sobre o próprio A Alvorada, chamando atenção dos que liam o jornal sem pagar, ou tentavam publicar textos grátis, ou da gente que simplesmente criticava o semanário pelas ruas.
O Dr. Pescadinha também escreveu muitos poemas e versos na sua coluna, a maioria com duplo sentido, ou com alguma mensagem “secreta” para alguém. Possivelmente os versinhos foram uma maneira de ocupar mais espaço na coluna de uma maneira criativa.
Outra data especial que sempre era lembrada pelo Dr. Pescadinha era o seu aniversário. Os dois irmãos nasceram em janeiro com poucos dias de diferença, e nas páginas d’A Alvorada quase sempre eram parabenizados juntos, porém na coluna do Sr. Juvenal podemos ver o seu humor e quanto ele gostava de doces e de presentes, e não perdia a oportunidade de exigir aos seus amigos alguma lembrancinha. E o mesmo fazia no dia de aniversário do jornal, exigindo doces, bolos, etc.