“O dr. Durval Morena Penny, é filho legítimo de José Morena Penny e Clarinda Crespo Penny, nasceu em Pelotas, aos 19 dias do mês de Janeiro de 1883.”
Recorte do jornal A Alvorada (1944) onde fazem um resumo da biografia de Durval Morena Penny.
“O dr. Durval M. Penny, um orgulho da classe médica pelotense, completou no dia 30 do mês p. passado, 30 anos de clínica.
O dr. Durval Morena Penny, é filho legítimo de José Morena Penny e Clarinda Crespo Penny, nasceu em Pelotas, aos 19 dias do mês de Janeiro de 1883.
Foi diplomado em medicina em 30 de Abril de 1914, pelo Instituto de Ciências Médica do Rio de Janeiro, pelo Decreto Federal 8659 de 5 de Abril de 1911, e também amparado pelo Decreto Lei 5545, de 4 de Junho de 1943.
O ilustre médico, aqui residindo, iniciou sua clínica gozando sempre do maior conceito da população tanto desta como de outras cidades.
Como médico tem sido sempre humanitário, despido de ganancia e de vaidade, tem sempre o coração aberto na prática do bem; sua clientela foi e continua sendo elevadíssima.
Suas receitas eram aviadas nas farmácias daquela época: Siqueira, Popular, Caridade, Requião, Souza, Rolim, Barboza, Passos, Khautz, Central, Cossie(sic), Moderna, Avenida, Brusque e Salengue(sic).
Em 1921, Penny & Irmão, fundaram a farmácia denominada “Penny”, onde trabalharam durante 22 anos. Tempos depois, devido as Leis, de não poder o médico ser proprietário ou socio de farmácia, foi esta firma extinta em 31 de Dezembro de 1942.”
Durval Moreno Penny
A infância de Durval Penny
Infelizmente não tenho muita informação sobre a infância dos irmãos Durval, Juvenal e Nina. Durval era o irmão mais velho dos três.
Por diferentes documentos descobri que o senhor Antônio Baobab, um conhecido ativista e líder social, foi uma espécie de padrinho para os meninos. ele foi provavelmente o responsável de que eles começassem a trabalhar no jornal Arauto, onde aprenderam a profissão de tipógrafo.
Nessa época o trabalho infantil não estava mal visto, tanto é assim que a recém inaugurada Biblioteca Pública Pelotense organiza cursos de alfabetização para jovens trabalhadores. Inspirados pelo iluminismo francês, essa iniciativa buscava dar educação aos jovens negros e estrangeiros trabalhadores.
Encontrei notícias dos irmãos Penny como alunos dos cursos da biblioteca no ano 1899, onde também coincidem com Rodolpho Xavier, irmão de Antônio, que será uma das personalidades mais importantes na trajetória do A Alvorada e da história negra de Pelotas.
Juntos e com outros amigos fundam o jornal A Alvorada em 1907.
Trabalhando de noite nas instalações do Arauto, depois de acabar o turno para criar um jornal com um ideal e com muitas expectativas! Foram muitos os companheiros nessa aventura e os seus nomes são lembrados nas páginas do semanário.
O primeiro número do jornal A Alvorada foi publicado no dia 5 de maio de 1907 na cidade de Pelotas.
Durval, orador oficial d’A Alvorada
Durval como o irmão mais velho assume a posição de líder. Ótimo estudante, orador desenvolto, carismático e empático. Era convidado para discursar em muitas festas e reuniões. Um dos trabalhos mais importantes era melhorar e aumentar as relações sociais. Conhecer-se e fazer-se conhecer. Construir uma representação política e social com orgulho, registrando histórias de vida, pensamentos e comportamentos dos negros da sociedade.
No A Alvorada se encontram muitos registros dos seus discursos em diferentes lugares como clubes, festas íntimas, enterros, aniversários, bailes e reuniões da sociedade.
Durval viajante
Ele é quem faz as primeiras excursões a comunidades vizinhas, como Bagé e Rio Grande, para fazer contatos e levar exemplares d’A Alvorada.
Em alguns relatos manifesta o seu carinho pelo amigo Aldrovando Sant‘Anna, de Livramento, que estava estudando farmácia e quem sabe foi uma inspiração para que ele decidisse estudar medicina.
A Alvorada teve um alcance regional, com secretários que enviavam notícias de cidades como Jaguarão, Pedras Altas, Cacimbinhas (atual Pinheiro Machado), Cerrito, Rio Grande, Capão do Leão, Bagé, Canguçu e Alegrete.
Mas os seus exemplares chegaram muito mais longe. Era comum trocar exemplares com outros jornais negros do Brasil, e em alguns momentos existiram muitas publicações independentes.
A Alvorada chegou ao Rio de Janeiro, Recife, Salvador, Desterro (atual Florianópolis), Porto Alegre e muitas outras cidades do Brasil.
Negócios paralelos de Durval
Antes de estudar Medicina Durval e Juvenal provaram combinar diferentes negócios para aumentar o faturamento. Ele foi promotor da “A Americana”, uma sociedade mutua predial, e de de uma companhia edificadora chamada” A Modelar”.
Durval e Juvenal encontram um sócio ideal para o seu projeto. Se associam com Silva e criam a “Agência Central”, que oferecia todos os serviços de gestão, cartórios, concursos, divórcios, contratos e o mais importante de tudo: os papéis de casamento. A Alvorada podia casar as pessoas. Esse foi o sócio mais longevo e uma união que funcionou muito bem. Os casais trocavam poemas e declarações de amor, se casavam e comunicavam o nascimento dos seus filhos no mesmo semanário.
Doutor Durval Penny
Pelotas é uma cidade à beira de um rio, húmida, muitas vezes com “fog”. Muita gente sofre de problemas respiratórios, doenças como a tuberculose e a pneumonia eram motivo de falecimento constante naquela época. Outras doenças que afetaram a muita gente foram a sífilis e a gripe Influenza, causa de mortes registradas nas filas do jornal A Alvorada.
Durval se afasta do jornal para estudar medicina. Com muito esforço conseguiu o seu diploma estudando por correio no Instituto Nacional de Ciências no dia 30 de Abril de 1914.
Em 1934 ele inaugura a sua primeira farmácia onde podia vender medicamentos e prestar atendimento. Antes ele dava consultas na sua casa e também ia aos lugares mais remotos oferecendo os seus serviços a qualquer hora, sempre amável e dedicado.
Durval com o tempo foi chamado o “médico dos pobres”, lembrado com muito carinho por todos que tiveram a sorte de conhecê-lo pessoalmente. Chamavam ele assim porque aceitava qualquer coisa como pagamento: galinhas, ovos, frutas, ou o que estivesse ao alcance do paciente.
Inaugura outra farmácia em Capão do Leão, segue atendendo nos dois lugares e também segue com os seus deslocamentos constantes aos lugares necessitados.
Porquê chamavam ele o “médico dos pobres”?
“Ele facilitava o pagamento com gêneros alimentícios para obter clientes, opção que o levou até Capão do Leão, distrito de Pelotas formado por colonos alemães e negros camponeses que trocavam sua produção (galinhas, porcos e frutas) por consultas médicas.”
O seu filho Djalma contava numa entrevista que o seu pai havia sido o primeiro negro em Pelotas em ter um carro, para poder atender nos povoados vizinhos a qualquer hora.
Eu imagino que eles também utilizaram o automóvel para a entrega do jornal.
Rua Doutor Durval Nunes Penny
Em Pelotas, o Doutor Durval Penny teve a honra de ser nome de uma rua, por alguma estranha razão colocaram o sobrenome Nunes na placa. Ninguém na família sabe explicar esse curioso fato.
A rua está no bairro Padre Reus, uma zona tranquila e bastante simples, ainda sem calçamento público, mas que tem uma igrejinha, um supermercado e uma escola pública, algo que faz da rua Doutor Durval uma das mais ativas na vida da comunidade.
Declaração de amor de Durval a Maria
O jornal A Alvorada era a “rede social” da sua época. Compartilho um poema do Dr. Durval (nessa época ele ainda não era doutor) que está dedicado à sua estrela “Maria”.
A sua futura esposa Maria Aldina Leal.
Família
Durval se casou com Maria Aldina e juntos tiveram muitos filhos, se encontram registros no jornal de felicitações, nascimentos, declarações, poemas, homenagens de diferentes membros da família.