Sempre tive uma relação contraditória com o *peculiar sobrenome da nossa família. Nunca soube explicar a origem do nome e o único que eu sabía é que o Penny “original” tinha “fugido” pra Argentina. Eu dizia pra todo mundo que o sobrenome era inglês, mas também existia uma teoria de que foi um italiano que mudou de nome por causa da “guerra”.
A verdade é que eu não sabia muito da história da minha família e infelizmente nunca tivemos uma relação “normal” entre todos, havia muitas brigas e não convivi muito com o meu avô. Ele morreu e eu era pequeno, e não pude fazer todas as perguntas que eu gostaría de ter feito.
Sou curioso, sempre fui. E fui descubrindo algumas cosas com o tempo, como que o meu Bisavô tinha sido o fundador de um jornal abolicionista, mas pensava que ele era o tal italiano.
Fiz a primeira árvore genealógica da minha família para o postgrado de ilustração, mais ou menos pelo ano 2005.
Faz anos que moro na Espanha, me distanciei da família, mas nunca perdi o contato com a minha mãe e o interesse pelos parentes. Na última visita da mãe aqui em Barcelona ela me fez uma pergunta que eu não soube responder:
-Qual o legado que eu te deixo meu filho?
Balbuceei, pensei no que ela sempre representou pra mim, essa súper mulher guerreira capaz de criar um filho sozinha, que eu aprendi com ela o significado do esforço, do sacrifício, mas também que a vida é alegria, que cada coisa tem o seu momento e que o importante é ser feliz e estar em paz. Foi a melhor resposta que eu pude encontrar naquele momento, mas faltava alguma coisa.
Pouco tempo depois, e quase sem querer, comecei a puxar de um fio e descobri uma história fascinante que preciso compartir com o mundo. Tudo começou pela única informação que eu tinha:
O jornal “A Alvorada” de Pelotas. E para minha surpresa o primeiro que vejo é uma foto do meu Bisavô: Juvenal Morena Penny. Vibrei de alegria e comecei a desenhar o bisa, nesse processo duvidava se ele era preto ou branco (a foto original é de cor sépia). Começaram várias ligações para minha mãe e para minha tia para perguntar mais coisas, mas as informações eram confusas e precisava mais.
E agora é o momento em que aproveito para agradecer o maravilhoso trabalho de muitos historiadores brasileiros que sabem muito mais sobre a nossa família que qualquer um dos familiares vivos e sobretudo dos investigadores, alunos e professores da Universidade Federal de Pelotas.
A continuação contarei a história da família Penny no Brasil com a ajuda de diferentes trabalhos e investigações, ainda me faltam muitos dados e algunos não são exatos, mas com esse trabalho podemos entender o legado da família Penny do Brasil.
E dedico este trabalho à minha tataravó, Clarinda, negra nascida escrava que com o seu esforço criou 3 filhos sozinha, ela como muitas outras mulheres da família foram esquecidas e as conquistas dos seus filhos Durval e Juvenal parecem muito mais importantes que os valores que ela soube inculcar nos seus filhos. Viva todas as mães Penny! E um enorme viva à nossa matriarca Clarinda.
Árvore genealógico da família Penny
Graças à busca por informação sobre o passado da família e com ajuda das redes sociais consegui encontrar muitos familiares e construir uma árvore genealógica mais realista da família Penny de Pelotas de finais do XIX ao princípio do século XX. Adoraria saber sobre os pais do senhor José Morena Penny e da senhora Clarinda Crespo Penny, mas ainda não cheguei até essa fonte de informação.
Esse é um projeto aberto, mas que com a ajuda de um montão de gente fantástica acho que está bastante completo e atualizado. Essa é a herança do senhor José Morena Penny, e o seu legado permanecerá vivo, e a memória dos seus filhos também, e de todos os participantes dessa família que mesmo distante está unida de alguma maneira por esse sobrenome tão “British”.
Eu continuo buscando dentro das minhas limitações mais informação sobre o José e a Clarinda. Os contatos estão abertos nas redes sociais e esta história está viva, como essa família e o seu legado.
Quem queira colaborar me escreva com o nome dos seus antepassados e a ser possível as datas de nascimento. Toda foto antiga será apreciada também.
Escrever para:
jorgepenny@gmail.com
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Os irmãos Durval e Juvenal Penny fundaram junto a outros amigos o jornal A Alvorada em Pelotas no ano 1907.
A idéia provavelmente foi do Antônio Baobab, aproveitando o talento do seu irmão Rodolpho e dos irmãos Durval e Juvenal Penny. Os quatro foram os fundadores principais do jornal A Alvorada, e estavam juntos no dia 05 de maio de 1907, quando se publicou o primeiro exemplar, impresso nas noites em que a tipografia do Arauto estava livre.
O semanario A Alvorada foi criado para ser a voz do negro em Pelotas, um orgão de luta contra a discriminação racial e em defesa do operariado pelotense. O jornal era um espaço para informar sobre as atividades culturais de interesse para os negros, que nesse momento não podiam entrar em todos os cafés e teatros da cidade, tinha também o objetivo de através de conselhos e fofocas indicar regras morais e de comportamento para os leitores, e ajudar a construir uma identidade negra positiva.
Na cabeceira se lê que os diretores são “Durval & Irmão”. Rodolpho é o principal articulista, uma voz racional, fundamental na história do jornal, e com um discurso atual, que poderia ser aplicado aos nossos dias.
Os assuntos e a maneira com que Rodolpho escrevia serviam de guia e farol de direção do discurso “oficial” do jornal, mesmo que fosse um espaço bastante aberto e plural, onde as vozes discordantes compartilham espaço em largas discussões publicadas em vários exemplares o jornal publicava a sua opinião sobre a maioria dos temas polêmicos. Sem dúvida era um jornal que permitia a livre expressão de diferentes pontos de vista.
Infelizmente Antônio não pode acompanhar a longa trajetória da A Alvorada. Baobab faleceu aos poucos meses da primeira edição, no dia 8 de julho de 1907 aos 49 anos. Foi um dia muito triste.