José em Porto Alegre

José em Porto Alegre
27/03/2024 Jorge

Um texto curto onde o meu avô explica que durante o seu passatempo de passear e olhar as vitrines do centro, descobriu a falta de representação de negros, nesse caso eram professoras, e não tinha nenhuma “NEGRINHA”.

O seu nome ainda figurava como Redator, mas nesse momento Miguel Barros era quem estava exercendo de redator da Alvorada.

Campanha Pró-Educação

130

Porto Alegre!

Capital de um dos tantos estados da União.

Atualmente resido e estudo, afim de completar o curso de preparatorios, na aprazivel metropole. Nas horas que o estudo me permite descansar, paseio.

Perambulando pela rua dos Andradas, principal arteria da cidade, contemplo enorme quadro com 130 fotografias, nas quais se viam as jovens formadas o ano passado pela Escola Normal.

Bela exposição, demonstrando o progresso da mocidade feminina desta terra; ali estão 130 professoras, novinhas em folha.

– Mas, ao que vem isto? – Eis a pergunta ao leitor destas despretenciozas linhas.

– Nada mais simples de responder. É sendo o Brasil um pais composto de ters raças: branca, negra e índia, não consegui devisar no meio daquelas alegres fisionomias, nenhuma «cara» das que comumente chamam: NEGRINHA.

Da natural do pais – A india, nem falar quéro, mesmo porque está em pior situação.

Paréce historia, mas é a pura realidade, 130 professoras BRANCAS. Em um estado que: nas cidades, nos municipios, nas ruas, nos becos, enfim, em cada esquina  se encontra uma NEGRINHA, não se ter o prazer de encontrar em tão elevado n.o de educacionistas, uma, que seja, decendente da heroica raça de Rebouças.

No entanto, estou certo, fôra aquêle quadro uma demonstração de fésta carnavalesca ou outra inutilidade do mesmo nível, a maioria era de NEGRINHAS, NEGRINHOS, NEGROS e NEGRONAS.

Poderá neste estado de cousas, o negro ter valor e merecer certas considerações, pelas quais tanto se bate, quando no entanto não demonstra atenção ao principal fator do progresso humano –  A EDUCAÇÃO?

José Penny

Porto Alegre, maio de 1934


 

O PortoAlegrense

Durante um curto tempo José Penny é o redator de uma página dentro da Alvorada chamada «O Portoalegrense», onde publica sobretudo entrevistas com personagens negros destacados na sociedade.