O sobrenome Penny
Não sei exatamente a origem do meu sobrenome, se é inglês, irlandês ou inventado. Você pode deixar esta web agora mesmo se quer respostas absolutas, ou pode acompanhar todas as minhas descobertas sobre as origens do meu sobrenome. Mas te aviso que o pouco que sei com certeza é que o meu sobrenome é Penny, embora nessa assinatura esteja escrito Pinny.
Mas não se preocupe, por notícias nos jornais, mapas, documentos oficiais e muitos desenhos podemos conhecer um pouco mais da curta trajetória de conquistas e derrotas do senhor José Morena Penny, o meu tataravô.
O sobrenome Penny está presente na Argentina, Uruguai, Chile, Perú, México, e obviamente nos Estados Unidos, Canadá e todo o Reino Unido.
Encontrei uma pista do pai do senhor José Morena Pinny e só posso contar o que os documentos revelam até agora. No registro de nascimento do seu primeiro filho Durval ele declara ser filho da escrava liberta Tereza Maria da Conceição e de José Morena Penny, comerciante natural da Itália, declarado morto nesse momento.
A informação não concorda com o teste de DNA que revela genes irlandeses e nenhum italiano. Infelizmente os irlandeses só começaram a ser registrados a partir de 1863, época posterior à dissolução das colônias do sul do Brasil. O nosso Penny pode ter viajado sem estar registrado, trabalhar para alguém, ser órfão, senhor, mil possibilidades…
Carta de liberdade de Thereza e do seu filho José
José Morena Penny no registro do seu primeiro filho Durval declarou ser filho de Thereza Maria da Conceição, escrava do Cel. José Gabriel de Lima, e José Morena Penny, natural da Itália. Encontrei a carta de liberdade de Thereza e do seu filho José Morena Filho, menor de idade em 1871.
José podia ter entre 10 e 15 anos de idade nesse momento para ser declarado menor.
Registro da Carta de liberdade da escrava Thereza, e de um seu filho menor, pasada por Joaquim Luiz de Lima Filho, como procurador de seu tio o Coronel José Gabriel de Lima como se ve(?) da procuração anexa, declaro que em virtude dos poderes que me forão conferidos dou, em Noe, e por meu constituinte como legítimo senhor, e possuidor da escrava Thereza e de um seu filho menor, plena liberdade para que della possão gozar como se de ventre houvessem nascido, e onde lhe convenha; sem que jamaíz neste a alguém o direito de os chamar ao captiveiro, pois que por por esta ficarão verdadeiramente livres, e exonerados de qualquer obrigação.
Cidade de Pelotas trinta de Maio de mil oitocentos setenta e um. Como procurador de meu Tio Coronel José Gabriel de Lima. Joaquim Luiz de Lima Filho. Estava(?) uma estampilha do sello do valor de duzentos reais = José Gabriel de Lima Cavalheiro da Imperial Ordem de Christo Coronel Comandante do Corpo numero quarenta e quatro de Cavallaria de Guarda Nacional = Pela presente procuração por mim feita e assinada constitua meu procurador na cidade de Pelotas ao Senhor Capitão Joaquim Luiz de Lima Filho com poderes especiáes para passar a Carta de liberdade a escrava Thereza e a filho menor o mesmo Senhor Lima vai por mim autorizado para passar a dicta carta para o que dou todos poderes necessários para necessário fim podendo ______lecer esta em quem lhe convém com os mesmos podres dando em tudo por aprovado. São Bernardo sete de Maio mil oito centos setenta e um. José Gabriel de Lima = Reconheço verdadeira a letra e a firma do Senhor Coronel José Gabriel de Lima. Pelotas trinta de Maio de mil oitocentos setenta e um. José d’Oliveira Portugal = Francisco Antonio Macalão = Reconheço as firmas __para, e dou fé.
Pelotas trinta de Maio de mil oitocentos e setenta e um == Em testemunho de verdade estava Estava a original publica(?) Francisco José das Neves = (Estava uma estampilha do sello de valor de duzentos reis) Está conforme a carta, e procuração originais a ellas me reporto. E de como a parte as reconhecem neste ______, Pelotas em trinta dias do meu de Maio de mil oito centos setenta e um. Eu _____ Cardoso de Souza Escrivão ajudante a escrever. E eu Francisco José das Neves Tabelião e subscrevi(?).
Francisco José das Neves
José Morena Filho
Vejamos o que
sabemos do senhor
José Morena Penny.
A primeira notícia é intrigante:
Participante como depositário da Sociedade Lotérica Santa Cruz em 1881 com o nome de José da Rocha.
Descubrimos que ele organiza apostas. Por trabalhar num estabelecimento central é o depositário perfeito de apostadores buscando um prêmio e poder comprar a sua liberdade. É conhecido por José da Rocha, por alcunha (nome que assinava) José Peny.
Quem era esse José da Rocha por alcunha José Morena Pinny. Um mestiço Irlandês? Filho de branco com negra? Por isso o Morena? Era mulato? Mestiço? Negro? Branco? Qual era a sua idade?
Nessa época era normal assinar o nome dando prioridade para a pronúncia. O Pinny assinado com “i” é indício de que o senhor José queria que se pronunciasse o seu sobrenome “Pí-ni” e não “Pê-ni”, que é como um brasileiro lê a palavra penny. Seria então uma forma de distinção e não um erro ortográfico.
Sabia assinar o seu nome e conhecia a sua pronúncia original. Suponho que sabia ler e contar. Estudou? Era trabalhador em um hotel central na cidade. Organizava apostas. Participava em Sociedades. Teve um hotel com o seu nome. Tinha escrava. Era importante? Queria ser importante? Se sentia importante? Trabalhava para alguém? Com alguém? Quem eram os seus sócios e amigos? E poderia seguir fazendo mil perguntas sem resposta.
Sociedade Lotérica Santa Cruz –
Declaro que a sociedade organizou-se e comprou 50 meios bilhetes de loteria da corte, a extrair-se em 30 de julho de 1881, com cinquenta sócios, visto alguns não terem satisfeito seus débitos. Bilhetes [segue-se o número dos mesmos].
Sócios: José da Rocha e Cia.; Manoel Martins de Castro, Guilherme Lassal, Arnaldo Almeido; Luiza Amélia Rodrigues; Crispim José Callero, Antonia Cardoza Duarte; Maria Augusta; Jacinto Inácio Gomes, José Francisco Fontes; Francisco Mendes Pereira; João Fernandes; Joaquim Fernandes; Alexandre Pinto de Souza; José Luis; Pacífico da Costa; Manoel Inácio dos Santos; Bernardino Vieiro dos Santos; Francisco Medina Veiga (duas cotas); Guilherme Litran; Domingos Francisco de Jesus; Estevão Ferraz Deandihum; João da Silva Melo. O depositário destes meios bilhetes é o Sr. José da Rocha e C., por alcunha José Peny.
JORNAL DO COMÉRCIO,
05/07/1881.
Carta de liberdade da Donata
E com data do ano 1884 encontrei uma carta de liberdade assinada por José Morena Pinny em favor da escrava Donata, pela quantia de 150 mil réis anuais até 1888, ano da proclamação da abolição da escravatura no Brasil.
10 de setembro de 1884
“Carta de liberdade de Donata, passada por José Morena Pinny, como abaixo se segue:
Eu abaixo assinado declaro que sendo senhor e possuidor da escrava matriculada na Paroquia de São Francisco de Paula, município de Pelotas, em 28 de agosto de 1873 e averbada em 20 de junho de 1883, na nota 3856, de nome Donata, de cor preta, de 30 anos de idade, matriculada sob nº 1913, natural desta Província, resolvi liberta-la em 31 do mes de Dezembro do futuro ano de 1888. Avaliando o seu serviço anual, para presta-lo a mim e a minha familia em cento e cinquenta mil réis, cuja quantia anual, poderá (reunir-se) em qualquer tempo antes do prazo que lhe fica estipulado, se para esse fim obtiene meios lícitos para nos pagar, aguardando aquelas proporções anuais. Para garantir a exatidão desta declaração mandei escreve-la em duplicata que assinei com as testemunhas, que será registrada em qualquer cartório desta cidade, para produzir o efeito devido. Pelotas dez de Setembro de mil oitocentos e oitenta e quatro. José Morena Pinny. Como testemunhas, José Ferreira Alves Guimarães, Antonio José Rodrigues d’Araújo. Está conforme a carta original a que me reporto, entregue a parte apresentando abaixo firmada.
Pelotas, dez de setembro de mil oitocentos e oitenta e quatro, Eu Luis Fillipe d’Almeida (…. )(…) e assino
Assinaturas:
Luis Fillipe d’Almeida
José Morena Pinny”
José se suicida
Os documentos e o registro na imprensa que deixou o José Morena Penny foi variado. Aparece em 1881 como organizador de apostas com o nome de José da Rocha. Usa o dinheiro do prêmio de Clarinda no Hotel Penny, mas perde o hotel, gasta todo o dinheiro e rouba de uma sociedade que participava.
Mas quem era? Como ele era? Afrodescendente. Isso parece óbvio, mas de qual tipo? Inconsequente? Perdeu dinheiro gastando sem controle? Jogando? Uma das hipóteses que eu imagino é que ele perdeu tudo jogando. Mas para poder perdoar o tataravô eu acredito que ele foi enganado pelos “amigos”. Um complô para roubar o dinheiro da Clarinda e da Josepha? Por que não?
O caso é que ele gastou todo o dinheiro em menos de 4 anos, livin’ la vida loca total e em 1883 ele está morto. Suicídio. Afogado no arroio Santa Bárbara.