José Moreno Penny

José Moreno Penny, filho legítimo de Juvenal Morena Penny e Izabel Penny, nasceu em Pelotas, no dia 24  do mês de Janeiro de 1911.

A infância de José Penny

José Moreno Penny era filho de uma nova geração de negros que conseguiu conquistar uma dignidade nunca vista antes. Estudou no Ginásio Pelotense com outros irmãos de cor, e teve a oportunidade de ir para a capital se preparar para entrar na Escola de Engenharia. Na juventude formou parte da Frente Negra Pelotense

José era filho de Juvenal e meu avô. Minha tia conta que ele perdeu a mãe jovem, e quem cuidava dele era a vó, mãe da senhora Izabel,  que obrigava ele trabalhar, vendendo pastéis, ou o pior de tudo limpando letrinas, uma lembrança que marcou ele. Por outro lado Juvenal se preocupou que José tivesse uma boa educação.

 

José Moreno Penny

José Penny e A Alvorada

O meu avô teve uma presença bastante marcante no jornal. Começou sendo o travesso filho do chefe, o querido Zézé Penny, foi vigiado de perto pelo Dr. Pescadinha, e se transformou no “prepatoriano” para Engenharia José Penny.

Juvenal fez o possível para o seu filho ter a melhor instrução, ingressou ele em um dos melhores ginásios de Pelotas, e depois enviou o filho para capital para prepararse para a Universidade estudando no colégio Julio de Castilhos.

Nesse momento meu avô escrevia muito no jornal, era muito crítico com a sociedade negra e com a petulância da juventude achava que tinha a solução para todos os problemas: a Educação.

Foi o criador da Campanha Pró-Educação, que ocupou a capa da «A Alvorada» uma boa temporada na década de 30. Nesse mesmo momento outros movimentos de caráter cultural e educativo surgiam no país inteiro. Possivelmente o resultado natural dos primeiros anos de industrialização e de criação de uma rede de serviços e comércios.

Em São Paulo o movimento negro fundou a Frente Negra Brasileira, que serviu de catalizador de uma nova juventude negra pelotense, que se uniu na Frente Negra Pelotense, que deixou o seu legado registrado nas páginas do jornal.

Racismo entre irmãos de cor

Ler a coluna completa de José Penny

Leia e Releia

O negro é o maior inimigo do proprio negro.

José do Patrocínio.

Assim o grande abolicionista, e eu, infelizmente, afirmo as suas palavras.

Em cérta fésta publica, foi visto e censurado por pessoas de raça branca, algumas moças da raça etiópica, comentando com palavras pouco atenciosas, outras suas irmãs de raça, filhas da cidade vizinha, que estavam sendo alvo de tão máo procedimento, por vestirem com cérto esméro.

Ora vejam, parece história, mas é a pura realidade.

As pessoas brancas que assistiram tão edificante cena, estavam mais tarde comentando o infeliz caso, quendo uma délas disse: «Isto não é nada: quantas vesês assistia eu paradas civicas, e tive que me retirar do local onde estava, porque na ocasião da passagem dos alunos do Ginasio Pelotense, ouvi: –Ora, aquele negro no meio dos brancos, pensa talvés que seja branco, tambem?!».

Palavras estas, então, dirigidas a mim, aluno naquéla época de tão importante estabelecimento de ensino secundario.

Vejam, meus amigos, a que ponto chegou a ignorancia dos nossos irmãos de raça, principalmente do elemento femenino. Os proprios brancos, acham-se melindrados em sua dignidade moral ao ouvirem termos de tal calão; tendo a agravante de serem proferidos pelas nossas gentis «meninas», que serão as mães dos nossos futuros irmãos de raça.

Pobre raça de Patrocínio!

A que ponto chegaste! Onde até os elementos da tua propria especie são desclassificados de tal forma; só porque estão procurando tomarem conhecimentos daquilo, que tu, – raça de Rebouças, abandona por julgares inutil.

Aliás, não me refiro a todos, mas não deixo de dizer que são na maioria os que assim procedem.

Fosse eu visto, saltando e bancando o palhaço na frente de algum cordão Carnavalesco, estes mesmos que me desprestigiaram, frenéticamente me aplaudiríam, mas como estava procurando honrar, (desculpem a falta de modestia) talvês, uma raça que tem sido tão desprestigiada pela falta de cultura dos seus elementos, estes mesmos me atacam e enxovalham, como se eu fóra alguma péste nociva.

Enfim, como estou com as palavras de Patrocinio sempre na mente: –«o negro é o maior inimigo do proprio negro». – me conformo.

José Penny.

Quando a metado do povo for instruído, tudo no Brasil melhorará e será saneado, até a política…

Uma vez desfilando pelo Ginásio Pelotense, José liderava um grupo de meninos brancos, e escutou como umas conhecidas riam e faziam comentários negativos por ele estar no meio de brancos se achando igual que os outros.

O fato foi lembrado, anos depois, por ele mesmo na sua coluna Leia e Releia, onde comentava que havia acontecido o mesmo em um evento recente, mas agora ele tinha a solução e não duvidava em afirmar que a educação era a forma de vencer o racismo e de mudar a sociedade.

Ora vejam, parece história, mas é a pura realidade.

As pessoas brancas que assistiram tão edificante cena, estavam mais tarde comentando o infeliz caso, quando uma délas disse: «Isto não é nada: quantas vesês assistia eu paradas civicas, e tive que me retirar do local onde estava, porque na ocasião da passagem dos alunos do Ginasio Pelotense, ouvi:

–Ora, aquele negro no meio dos brancos, pensa talvés que seja branco, tambem?!».

Mais vale negro bem preto do que branco sem educação!

Leia e Releia a coluna de José Penny

Leia e Releia

Mais vale negro bem preto do que branco sem educação!

Sabado 11.

Chego em casa de minha noiva, onde esta me conta que pela manhã havendo necessidade de fazer umas compras, saiu à rua, e ao passar pela rua General Osorio, entre 3 de Fevereiro e Dr. Cassiano, encontrou parado em certa casa de negocio em paléstra co alguns outros cidadãos, o sr. Livio Luz, vulgo Lavico, proprietario da casa Mortuaria Luz, que disse aos outros seus amigos na ocasião em que eu passava: –«Tu has de acreditar que esta mulata namóra um negro bem preto?»

Fiquei boquiaberto ao ouvir semelhante palavrorio, digno de pessoa sem valôr moral, mas não duvidei, porque, já ha tempos éla me relatou qualquer cousa que dizia respeito, este senhor, que se dá ao desfrute de mecher com quem passa; mas não dei muita importancia, todavia, hoje aproveitando em cheio a Campanha Pró-Educação aberta por este jornal e envolvido num caso deste, não hesitei em traçar estas linhas.

Tenho a dizer que sou negro e muito me honro em ser, sei tambem que a minha noiva me admira em todo sentido, isto é, pela côr, fisico, educação, etc., tanto que me relatou o englobado de asneiras do seu Livio.

Olhe, seu lavico, não pense que estamos no período da escravatura, eu sou negro e pobre materialmente, mas não me assusto intelectualmente em competir com você em qualquer terreno, pois um cidadão cujo estado civil é, como o seu, casado; parar em plena via publica a proferir gracejos do quilate dos que foram proferidos, para as jovens que passam, bem móstra a sua pobresa de instrução, educação, raciocínio e tantas outras cousas, que se o seu acanhado cerebro estivesse de posse evitaria.

Sei que é indigno de minha pessoa que atualmente frequenta o 4o ano de um dos primeiros ginasios do Rio Grande do Sul, o Julio de Castilhos, em Porto Alégre, e frequentou nesta cidade o conceituado estabelecimento de ensino até o 3o ano, nunca encontrando nestes estabelecimentos de ensino ninguem que me despresasse por ter a péle igual a de José do Patrocínio, Rebouças, Cruz e Sousa, Tobias Barreto e tantos outros, o estar aqui néstas linhas comentando um caso, cujo ator só merece despreso e asco das pessoas de bom sentimento moral, mas como quero demonstrar em publico ao seu Lavico, que não julgue que por ser branco vale mais do que eu, arrisquei apesar de me tornar indigno de mim mesmo, rabiscar estas linhas, para desmascarar um cidadão que se julga tanto e não é mais do que um ignorante.

O Codigo Penal em diversos artigos sobre o direito do cidadão brasileiro, desconhece qualquer acendencia racial, sendo todos iguais. Lógo seu «Umbú» com vestes de «Pavão», vá cuidar de sua esposa e filho que lhe recomenda melhor, e não se envolva com quem não conhece.

José Penny

Meu avô também relatou outra situação de racismo desagradável com a sua noiva, Aracy da Costa Ribeiro, minha futura avó. Um comerciante comentou com outros desconhecidos enquanto ela passava: «Tu has de acreditar que esta mulata namóra um negro bem preto?»

Meu avô não duvidou em utilizar a sua coluna para atacar ao mequetrefe, o fato foi desmentido pelo autor numa edição posterior.

 

Leia e Releia

Leia o texto Viver é Lutar de José Penny

Viver é lutar

Ainda não me sinto bastante forte, para dissertar sobre tão sério assunto.

mas, através dos poucos anos que conto, tenho sofrido tantas decepções, e visto algo de impressionante na luta pela vida, que estou convencido de que tamanha batalha sé se extingue com o último pulsar do coração.

Vêde o póbre, que nasce, vive e morre, sempre lutando com mil obstáculos; mas, como tuda na vida depende do cstume, ao habito se alia, e, uma vez que não lhe falte ânimo, luta com altivez e, na sua miséria, sempre acha alguma felicidade porque luta para viver.

Vêde o rico, que nasce, vive e morre no meio de todas as grandezas, que lhe proporcionam o dinheiro, mas que, nem por isso, deixa de ser um ente mortal, como todos os seus semelhantes, apenas diferençando-se destes pela fortuna, que lhe prodigaliza todas as felicidades possíveis. Ainda assim vemo-lo lutar para viver.

Vêde, ainda, no reino vegetal, mineral e animal, esta luta incessante, que tem sido assunto de tantas obras importantes, nas quais são devassados quase todos os segredos que os componentes destes tres grandiosos reinos emprégam na luta pela vida.

E todo corpo que tem vida, quer em terra, no mar e no espaço, não faz mais que lutar para viver, porque a vida é uma batalha insana, travada contra esse ou aquéle elemento que nos obsta o caminho.

Vêde, pois, como se rejubilará, com razão, todo aquêle que, neste vale de lagrimas, conseguir chegar até o final desta batalha infrene(sic), contente e feliz, e que juntamente com um sorriso diz: «Adeus, vida, pesa-me um pouco deixar-vos, mas para consolar-me, resta dizer que vos deixo sem medo, porque sempre lutei convosco e não conseguistes bater-me».

E para se poder dizer isto, não é preciso mais do que trilhar o caminho da honra e do dever, sendo um herói, aquêle que, com tão poucas palavras, se despéde desta imorredoura campanha.

Salve, pois, a memória deste herói!

José Penny

José começou escrevendo textos com títulos chamativos, que pouco a pouco foram ocupando mais espaço, atraindo mais a atenção, e cada vez mais críticos com a sociedade negra.

Na sua coluna fixa chamada «Leia e Releia», foi onde encontrou o meio para dar forma e publicidade a Campanha Pró-Educação.

Antes de criar a campanha pela educação e instrução da raça negra ou participar da Frente Negra Pelotense, já se pode ver os sinais das ideias que ia defender com garra e valor durante toda a sua vida.

Viver é lutar é o meu texto preferido, uma carta de apresentação, onde se pode reconhecer o caráter sério e comprometido do jovem José Penny.

Em quase todos os textos sempre insiste na idéia da educação como maneira de resolver todos os problemas. Sempre preocupado em primeiro lugar pelos problemas dos negros e da pouca representação na sociedade, e muito indignado pelas ofensas e racismos publicados à diario nos meios de comunicação.

 

Redator: José Penny

CAMPANHA PRÓ-EDUCAÇÃO

Campanha Pró-Educação

Verdades que Machucam

Algumas pessoas hão me dito que nem sempre se deve dizer a Verdade, mas tenho por lema usar de toda franqueza quando exprimo o que penso, principalmente, visando o assunto Instrução, que se acha tão descurado entre nós, resolvi apezar de ferir sucetibilidades grafar estas pobres linhas, onde procuro mostrar a Verdade dos fatos, muito embora sendo criticado.

Nada sei, nem sou, em comparação com outras mentalidades que colaboram neste semanario e existem no Brasil, mas aqui estou, porque almejo formar o exercito, dos que desejarem se baterem pelo problema maximo Nacional: A Educação. Exercito este onde militarei como o ultimo dos seus soldados, disposto a dizer a Verdade e sofrer a critica dos que me julgarem errado.

Vós, que pertenceis a raça etiópica e andais todos os dias escrevendo cousas sem utilidade para os vossos irmãos que não vos compreendem, por não terem o conhecimento necessário; alistai-vos nas fileiras dos que combatem contra a ignorancia e ide para o campo de luta entusiasmar os que nada sabem, afim de que estes voltem as vistas para o que ha de belo e sublime no saber e na educação do «eu». Isto para amanhã veres o engrandecimento da raça e seres compreendido.

Escrevei bastante, prosa ou poesia, mas tendo sempre por objetivo o mostrar aos que sabem menos o grande valor que ha estudando; lendo bons escritores, que os ensinarão a se conduzirem na sociedade; a constituirem uma familia honrada, serem bons chefes da mesma, não constituirem familia numerosa, para assim poder educar seus filhos, porque se vamos esperar dos governos, a nossa evolução intelectual ficará transformada em quiméra como até hoje tem acontecido.

O pedreiro, o sapateiro, o alfaiate, o tipografo, o pintor, o leiteiro, enfim, todos os que empregam suas atividades em profissões que parecem humildes e que no entanto são tão grandes como a do médico, engenheiro, dentista, etc, mas que se tornam sem valor, porque os que a desenvolvem na maioria não têm a devida educação e conhecimentos para as defenderem e colocarem na altura em que deviam estar.

Todos nós, desde o «tirador de lixo» até o «Presidente da Republica», devemos estudar, este mais que aquéle, mas a verdade é que todo individuo que tivér educação, será conciente dos seus atos e dignificará a sua profissão por mais humilde que éla pareça.

Tenho apenas 22 anos, todavia tenho observado que todo movimento coletivo nas classes onde o preparo intelectual é deficiente não vai avante, o mesmo não se dando nas classes onde todos são concientes dos seus deveres e o cultivo mental é vasto.

Muitos perguntarão:  Por que esta diferença? As respostas que não deixarão duvidas serão estas:

1ª. Onde não ha instrução e perfeito conhecimento dos deveres, nunca haverá progresso, e por isto todo movimento coletivo num meio inculto não vai além do inicio.

2a. Só poderá haver perfeita união coletiva, onde os componentes sejam educados e conheçam o verdadeiro dever do homem entre os seus iguais.

Eis porque as classes cultas dominam e dominarão, salvo quando a vossa inteligencia estiver cultivada, de maneira a poder discernir com segurança, o verdadeiro papel do homem entre os seus semelhantes.

Estudai, educai-vos e compenetrai-vos de que a verdadeira felicidade e união esta no saber.

Não vos deixeis iludir com frases bonitas nem discursos bombasticos, uma vês que estes não visem a educação do povo.

É isto, meus amigos, formemos o «Exercito do Saber», para combater o analfabetismo e educar os nossos semelhantes, afim de que estes não sirvam de esteio aos letrados corrompidos.

José Penny

José se estava preparando para ir à capital, ia entrar numa Universidade. Antes da viagem a Porto Alegre foi redator da Alvorada por uma temporada, exatamente quando aproveitou a oportunidade para promover a sua campanha pela educação e instrução.

Enquanto foi redator o jornal assume o tom combativo, o seu amigo Miguel Barros, assinando Creoulo Leugim, ocupa sempre parte da capa com textos curtos de grande impacto.

Outros autores e colaboradores se unem à Campanha e assinam textos defendendo a iniciativa e animando aos leitores a ajudar e buscar a iluminação através do estudo.

 

Os Estudos de José Penny

Frente Negra Pelotense

Campanha Pró-Educação

Alérta, Negros

Ao assumir a redação do nosso humilde semanario durante o curto lapso de tempo em que estiver de férias, farei todo o esforço para que «A Alvorada» continue no seu firme proposito de mostrar ao povo desta cidade, principalmente etiópico, que só estudando e procedendo corretamente com seus semelhantes, o homem negro poderá levar de vencida um dos modernos cavaleiro do Apocalipse, o PRECONCEITO de côr.

Dito isto, dou por terminada a minha apresentação, convidando a todo aquele cidadão de boa vontade que quizer uzar de gentileza de nos honrar com  a sua colaboração, que as colunas do nosso orgão está a disposição. Continuarei ainda, para dizer algo sobre uma organisação que inicia seus passos vagarosamente, mas que dentro em breve será uma realidade.

A Frente Negra Pelotense está firme, e assim ha de continuar, pois associação como esta, poucas ou nenhuma existe no mundo, verdade é que encontrará dificuldades agora no principio, mas dádo um pugilo de homens intemeratos que trabalham na direção, estou confiante que semelhantes dificuldades h~åo de ser vencidas, e amanhã Pelotas orgulha-se á de possuir um centro de cultura que não só elevará o nome da cidade como o do Brasil, sendo que mais tarde a sua obra ha de fazer éco em todo o mundo.

Ha dias assisti uma sessão da mesma, onde foram ventilados assuntos de maxima importancia, entre êles, a nomeação de Guarda Livros da novel organisação cultural, do ilustre e batalhador jovem, Bacharel em Ciencias Comerciais, Miguel Barros, formado no veterano estabelecimento de ensino Ginasio Gonzaga, ainda uma nomeação de muito valor, foi sem duvida a de Cobrador, confiada ao distinto e acreditado sr. João Pedro Ferreira.

Isto me deixou devéras entusiasmado, principalmente quandosoube que as mensalidades no valor de 1$000, serão cobradas ainda este mês, aos 80 socios inscritos no livro de presença quando da ultima sessão de Assembléa Geral no dia 15 do mês primeiro.

O nucleo ora ali reunido, está no firme proposito de alugar dentro de pouco tempo, de acordo com a boa vontade dos srs. socios, em seus pagamentos, um local proprio para a localisação oficialmente da séde da futurosa agremiação de fundo puramente intelectual e cultural.

Fiquei ciente de que no proximo dia 24 do corrente, haverá Sessão de Assembléa Geral na séde provisoria, isto é, no salão do simpatico e atencioso «Está Tudo Certo» ás 3 horas da tarde, parra ser tratado assuntos de elevada importancia para a sociedade, o que equivale a dizer: para o bem da coletividade.

Será franca a entrada e não haverá seleção de raça, classe, sexo, crédo religioso, nacionalidade, traje, etc., isto é, todos que souberem manter a devida compostura em reuniões de semelhante ordem, podem comparecer, que não tiver a devida compreenção de seu papel perante a coletividade, é desnecessaria a sua presença, isto agora, porque mais tarde, estes serão sempre os primeiros convidados, pois para estes é que a Frente foi creada.

Amigos, por hoje ponho ponto final nas linhas que ficaram, pois talvês já tenha me tornado aborrecido, mas uma cousa vos digo: «Combaterá a F. N. P. todo aquêle que nunca visou o engrandecimento do Brasil». Por isto, mais uma vês devemos gritar: Abaixo a Ignorancia, mãe de todos os males sociais que ora assoberbam o mundo.

José Penny

Preparatoriano de Engenharia.

Quando veio para Porto Alegre meu avô estudou no colégio Julio de Castilhos como “preparatorio” para a Universidade. Minha tia conta que ele no fundo queria estudar Engenharia Civil e construir coisas, mas que optou por Engenharia Agrônoma porquê podia conseguir um lugar para morar e trabalhar ao mesmo tempo.

Minha mãe contava que foi por racismo, que não aceitaram um preto, disseram que ninguém ia confiar num engenheiro negro.

Não sei qual foi a razão, mas o fato foi que ele entrou na Escola de Engenharia com planos de estudar Engenharia Civil e acabou estudando Engenharia Agrônoma.

José Penny se despede do cargo de redator do A Alvorada

José se despede de ser redator da Alvorada e passa o comando ao seu amigo Miguel Barros, os estudos são exigentes, mas a vida na Capital permite que ele conheça outros expoentes da Raça e faça entrevistas para o jornal.

Campanha Pró-Educação

Despedida & Entrevista

Para encerrar a minha curta gestão do unico orgão que nos Estados de Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, defende desassombradamente a Raça de onde surgiu como um meteoro despedindo no espaço infindo das gerações que foram, das que estão e das que virão um faixo de luz, abnegação e heroísmo, o vulto inconfundivel de José do Patrocínio.

Peço aos caros leitores que me dispensem uns minutos, para agradecer penhoradamente as atenções que dispensaram as desataviadas paginas da «A Alvorada» durante os 3 meses em que ocupei sua redação, bem assim como ao modestotipografo, modesto na aparencia, mas grande na sua arte que tão nobre e compenetrado de seus deveres se mostrou me auxiliando, enfim este meu agradecimento se extende a todos quanto diréta ou indiretamente me auxiliaram, para maior brilho deste modesto semanario, que de lese a oeste, do sul até o norte é conhecido no Brasil.

Aproveitando o ensejo, direi algo sobre a entrevista que tive com o jovem e ilustre 1o Tenente do Exército Brasileiro, sr. Mario Fonseca, filho do Cel. Teodomiro Porto Fonseca, digno Prefeito de São Leopoldo. Este jovem que deixa vêr pela sua cultura de um verdadeiro psicologo, o quanto ama o Brasil e os seus habitantes desde a formação deste maravilhoso pais. Teve oportunidade de apresentar as devidas desculpas em nome de seu pai, pelo caso da Praça Centenario, onde negro não podia sentar nos bancos. Segundo este jovem, tal ordem nunca existiu, aoenas o correspondente do «Diario de Notícias» naquéla localidade, inventou a famigerada medida prefeitural, mas que afinal já está provado ser simples creação de um inimigo gratuito das boas maneiras de educação e cultura dos habitantes de São Leopoldo.

O jovem Mario prometeu, quando em ocasião oportuna, fazer uma vizita a Frente Negra Pelotense, talvez até para fazer uma pequena palestra sobre o passado da gloriosa Raça de que o Cr. André Rebouças foi um decendente, digno e capaz. Por meu intermedio remeteu áquéla associação cultural os seus agradecimentos e cumprimentos acompanhado de seu cartão de vizita.

José Penny.

Meu avô estudou o arroz com profundidade em toda a sua escala de valores e em todos os seus âmbitos. Introduziu novas variedades de arroz, combateu doenças da lavoura, estudou diferentes métodos de cultivo e deixou uma boa quantidade de textos, investigações e resenhas publicadas em meios especializados no setor arrozeiro.

O Arroz era muito importante na região de Pelotas e Rio Grande e foi o investimento a grande escala que substituiu o charque na econômia dos grandes barões da região.

Engenheiro Agrícola

José Moreno Penny se formou em Engenharia Agrônoma em 1942 e foi um investigador destacado com especialidade no cultivo do arroz, entre os seus trabalhos mais importantes se encontram os estudos:

Conservacão do solo nas lavouras de arroz. Lav. arroz. 11(124) : 133-135, abr. 1957.

Nivelamento e producão nas lavouras de arroz. Lav. arroz. 11(130): 352-354, out. 1957.

Combate racional e constante do capim arroz. Lav. arroz. 11 (123) :98-101, mar. 1957.

Crise da agricultura gaúcha analisada em sua essência política, económica e social. Lavoura Arrozeira, Porto Alegre, IRGA, 20(232):23-8, jul./ago.1966.

A mão-de-obra e o custo do arroz. Lavoura Arrozeira, Porto Alegre, IRGA, (220):23-4, jul. 1965.

O casamento com Aracy da Costa Ribeiro

José Moreno Penny, Juvenal Ribeiro Penny e Aracy da Costa Ribeiro Penny

José se casou com Aracy da Costa Ribeiro, nascida no dia 19 de Outubro de 1913, filha de Eloi da Costa Ribeiro e de Osonia Macedo Ribeiro. Minha mãe conta que os pais de Aracy eram propietários de um restaurante. Eloi era de origem português e Osonia foi encontrada ainda criança sozinha em um barco de bandeira holandesa e foi criada por uma família de boas condições financeiras.

José e Aracy eram um casal “multi-racial”, algo bastante avançado para o início do século XX no sul do Brasil.

Juntos tiveram 4 filhos:

Juvenal, Elói, Isabel e Leda.

Juvenal Ribeiro Penny

Elói Ribeiro Penny

Isabel Ribeiro Penny

Leda Ribeiro Penny

Aracy da Costa Ribeiro Penny

A morte de Aracy e o segundo casamento de José com Othylina

Aracy da Costa Ribeiro faleceu no dia 6 de Junho de 1958, por diferentes problemas derivados da diabetes, doença congênita que nesse momento ainda não tinha suficientes medicinas nem terapias efetivas para curarla.

Depois da morte de sua esposa José se encontra numa situação difícil. Trabalhava como pesquisador e engenheiro agronômo, campo onde fez grandes avanços e descubrimentos tanto no combate de doenças da lavoura como na mistura e na criação de novos tipos de arroz. José era um trabalhador incansável como o seu pai Juvenal, escrevía constantemente textos científicos, manifestos políticos e considerações sociais.

José se casa uma segunda vez com Othylina Maria Silva, que era irmã de Leda Maria Silva, namorada do seu filho Elói. Se apaixonam, se casam e juntos tem uma nova filha: Maria José Silva Penny.

Maria José Silva Penny

Maria José Silva Penny

Maria José Silva Penny

José Moreno Penny, Othylina Silva Penny, Leda Ribeiro Penny e Maria José Silva Penny

O Meu avô José Penny

Algumas lembranças soltas da minha infância

Este livro está dedicado ao meu avô José Moreno Penny. São uma série de lembranças desenhadas e escritas mais ou menos em ordem cronológica do tempo em que vivi com ele. A memória engana e sou consciente disso, algumas coisas modifiquei um pouco, outras pode ser que tenha sido enganado por mim mesmo, mas queria registrar o que eu lembro do vô como uma forma de agradecer aquelas palavras que ele me disse quando eu era pequeno:

“O nosso sobrenome é muito importante! Tu tens que estudar muito e tens que esforçar-te muito, muito mais que os outros. Nós os negros temos que ter um comportamento exemplar porquê sempre vão nos olhar de outra maneira.”