José Penny e o racismo estudantil

José Penny e o racismo estudantil
27/03/2024 Jorge

Com o apoio do seu pai José ingressa no Ginásio Pelotense, e apesar de se esforçar em ser um cidadão exemplar sofria racismo de brancos e negros.

Uma vez desfilando pelo Ginásio Pelotense, José liderava um grupo de meninos brancos, e escutou como umas conhecidas riam e faziam comentários negativos por ele estar no meio de brancos se achando igual que os outros.

O fato foi lembrado, anos depois, por ele mesmo na sua coluna Leia e Releia, onde comentava que havia acontecido o mesmo em um evento recente, mas agora ele tinha a solução e não duvidava em afirmar que a educação era a forma de vencer o racismo e de mudar a sociedade.

A Alvorada

19 de Fevereiro de 1933

Leia e Releia

O negro é o maior inimigo do proprio negro.
José do Patrocínio.

Assim o grande abolicionista, e eu, infelizmente, afirmo as suas palavras.

Em cérta fésta publica, foi visto e censurado por pessoas de raça branca, algumas moças da raça etiópica, comentando com palavras pouco atenciosas, outras suas irmãs de raça, filhas da cidade vizinha, que estavam sendo alvo de tão máo procedimento, por vestirem com cérto esméro.

Ora vejam, parece história, mas é a pura realidade.

As pessoas brancas que assistiram tão edificante cena, estavam mais tarde comentando o infeliz caso, quando uma délas disse: «Isto não é nada: quantas vesês assistia eu paradas civicas, e tive que me retirar do local onde estava, porque na ocasião da passagem dos alunos do Ginasio Pelotense, ouvi: –Ora, aquele negro no meio dos brancos, pensa talvés que seja branco, tambem?!».

Palavras estas, então, dirigidas a mim, aluno naquéla época de tão importante estabelecimento de ensino secundario.

Vejam, meus amigos, a que ponto chegou a ignorancia dos nossos irmãos de raça, principalmente do elemento femenino. Os proprios brancos, acham-se melindrados em sua dignidade moral ao ouvirem termos de tal calão; tendo a agravante de serem proferidos pelas nossas gentis «meninas», que serão as mães dos nossos futuros irmãos de raça.

Pobre raça de Patrocínio!

Aque ponto chegaste! Onde até os elementos da tua propria especie são desclassificados de tal forma; só porque estão procurando tomarem conhecimentos daquilo, que tu, – raça de Rebouças, abandona por julgares inutil.

Aliás, não me refiro a todos, mas não deixo de dizer que são na maioria os que assim procedem.

Fosse eu visto, saltando e bancando o palhaço na frente de algum cordão Carnavalesco, estes mesmos que me desprestigiaram, frenéticamente me aplaudiríam, mas como estava procurando honrar, (desculpem a falta de modestia) talvês, uma raça que tem sido tão desprestigiada pela falta de cultura dos seus elementos, estes mesmos me atacam e enxovalham, como se eu fóra alguma péste nociva.

Enfim, como estou com as palavras de Patrocinio sempre na mente: –«o negro é o maior inimigo do proprio negro». – me conformo.

José Penny.

Quando a metado do povo for instruído, tudo no Brasil melhorará e será saneado, até a política…