Meu avô também relatou outra situação de racismo desagradável com a sua noiva, Aracy da Costa Ribeiro, minha futura avó. Um comerciante comentou com outros desconhecidos enquanto ela passava: «Tu has de acreditar que esta mulata namóra um negro bem preto?»
Meu avô não duvidou em utilizar a sua coluna para atacar ao mequetrefe, o fato foi desmentido pelo autor numa edição posterior.
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Mais vale negro bem preto do que branco sem educação!
Sabado 11.
Chego em casa de minha noiva, onde esta me conta que pela manhã havendo necessidade de fazer umas compras, saiu à rua, e ao passar pela rua General Osorio, entre 3 de Fevereiro e Dr. Cassiano, encontrou parado em certa casa de negocio em paléstra co alguns outros cidadãos, o sr. Livio Luz, vulgo Lavico, proprietario da casa Mortuaria Luz, que disse aos outros seus amigos na ocasião em que eu passava: –«Tu has de acreditar que esta mulata namóra um negro bem preto?»
Fiquei boquiaberto ao ouvir semelhante palavrorio, digno de pessoa sem valôr moral, mas não duvidei, porque, já ha tempos éla me relatou qualquer cousa que dizia respeito, este senhor, que se dá ao desfrute de mecher com quem passa; mas não dei muita importancia, todavia, hoje aproveitando em cheio a Campanha Pró-Educação aberta por este jornal e envolvido num caso deste, não hesitei em traçar estas linhas.
Tenho a dizer que sou negro e muito me honro em ser, sei tambem que a minha noiva me admira em todo sentido, isto é, pela côr, fisico, educação, etc., tanto que me relatou o englobado de asneiras do seu Livio.
Olhe, seu lavico, não pense que estamos no período da escravatura, eu sou negro e pobre materialmente, mas não me assusto intelectualmente em competir com você em qualquer terreno, pois um cidadão cujo estado civil é, como o seu, casado; parar em plena via publica a proferir gracejos do quilate dos que foram proferidos, para as jovens que passam, bem móstra a sua pobresa de instrução, educação, raciocínio e tantas outras cousas, que se o seu acanhado cerebro estivesse de posse evitaria.
Sei que é indigno de minha pessoa que atualmente frequenta o 4o ano de um dos primeiros ginasios do Rio Grande do Sul, o Julio de Castilhos, em Porto Alégre, e frequentou nesta cidade o conceituado estabelecimento de ensino até o 3o ano, nunca encontrando nestes estabelecimentos de ensino ninguem que me despresasse por ter a péle igual a de José do Patrocínio, Rebouças, Cruz e Sousa, Tobias Barreto e tantos outros, o estar aqui néstas linhas comentando um caso, cujo ator só merece despreso e asco das pessoas de bom sentimento moral, mas como quero demonstrar em publico ao seu Lavico, que não julgue que por ser branco vale mais do que eu, arrisquei apesar de me tornar indigno de mim mesmo, rabiscar estas linhas, para desmascarar um cidadão que se julga tanto e não é mais do que um ignorante.
O Codigo Penal em diversos artigos sobre o direito do cidadão brasileiro, desconhece qualquer acendencia racial, sendo todos iguais. Lógo seu «Umbú» com vestes de «Pavão», vá cuidar de sua esposa e filho que lhe recomenda melhor, e não se envolva com quem não conhece.
José Penny